Aumento de atividade de influenza nesse ano e necessidade de maior imunização são aspectos indispensáveis para evitar hospitalização e óbitos relacionados ao período de maior circulação de influenza no Brasil Os últimos dados do Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo (Fiocruz), do total de 26 estados brasileiros, metade apresentou nível de alerta ou de alto risco para o crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) nas últimas semanas. A maior parte dos estados está localizada na região Centro-Sul, estando também em alerta alguns nas regiões Norte e do Nordeste do país. Isso aponta para uma expectativa diferente dos já que podemos ter uma sazonalidade de gripe com maior intensidade em 2025. Um outro dado complementar do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) apontou que o número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada pela influenza, em 2024, aumentou 157% entre os hospitalizados pela doença e as hospitalizações em si cresceram 189%. A taxa de letalidade chegou a 21,7%, o que significa um óbito a cada cinco idosos hospitalizados. Isso mostra uma realidade, no mínimo, preocupante e a baixa vacinação é um dos fatores que expõe a população ao influenza e leva a uma série de problemas. Um panorama desafiador para a saúde coletiva. Impacto em 2025 Nesse ano, o pico epidemiológico observado nos países do hemisfério Norte, sobretudo em fevereiro, teve circulação mais relevante dos vírus Influenza A, H1N1 e B e foi um fato bem representativo do ponto de vista da saúde pública. “Tivemos elevada atividade de influenza e podemos ter impacto importante mesmo aqui no Brasil se não fizermos a imunização ampla e adequada”, diz a infectologista Nancy Bellei. Outro aspecto observado pela médica é que o influenza voltou a circular como antes da pandemia de covid-19 e, em 2024, houve uma outra onda no segundo semestre de influenza B, distinta de outros períodos, ressaltando ainda mais o papel da imunização. “A aderência à vacinação tem sido muito abaixo dos níveis recomendados. Isso é um grande problema, especialmente para idosos, gestantes e crianças, que podem ter complicações, além de pacientes com pneumopatias, cardiopatias, obesos, diabéticos ou doenças autoimunes. Todos esses grupos deveriam preferencialmente se vacinar nos locais de atendimento ambulatorial”, completa Nancy. Riscos e prevenção Tão importante quanto minimizar os sintomas respiratórios, a vacinação contra influenza traz benefícios ainda mais importantes e evita quadros graves e hospitalização, com todos os tipos de vacinas para influenza disponíveis. “Está correto priorizar grupos de pessoas com maior vulnerabilidade para doença grave e risco de morte com a vacinação, que ainda reduz, de forma significativa, a morbimortalidade causada pela doença, incluindo acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio”, diz a infectologista Rita Medeiros. O grande desafio, segundo especialistas, ainda é o incentivo à vacinação nos períodos recomendados (com a região Norte em épocas diferentes), o combate às notícias falsas e principalmente mais campanhas de conscientização. “Após a pandemia, a desinformação e uma crescente onda de propaganda antivacina contribuíram para reduzir consideravelmente a cobertura vacinal em geral e não foi diferente para a vacina antigripal. Temos que ter mais campanhas”, diz Rita. A vacinação contra a gripe já está disponível em todo o país para grupos específicos, mas a procura ainda não está como o esperado, por enquanto. Contudo, temos uma novidade: essa vacina estará no calendário durante todo o ano nos postos de vacinação, mas isso também requer algumas ressalvas. “Importante que haja entendimento do pico epidemiológico de influenza para que tenhamos os reais benefícios e que se vacinem no período apropriado. Se não fizerem no período sazonal, não ficarão protegidos. Vale destacar também que as vacinas …
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Mudanças climáticas e infecções fúngicas: foco em Candida auris no Brasil
por Júnior RosaCandida auris é um fungo emergente que tem preocupado a comunidade científica considerando a sua capacidade de causar infecções graves (especialmente em pacientes hospitalizados com comorbidades), dificuldade de tratamento e desafios em relação ao controle de infecções hospitalares. Essa levedura distingue-se por sua potencial resistência a múltiplas classes de antifúngicos e pela sua habilidade de persistir em superfícies por longos períodos, o que facilita sua disseminação em instituições de assistência a saúde. No Brasil, casos de Candida auris têm sido relatados desde 2020, com surtos em hospitais de diversos estados, como Bahia, Pernambuco e São Paulo, evidenciando a necessidade de uma vigilância estruturada e sistemática. As mudanças climáticas, uma temática cada vez mais relevante, têm relação importante com o surgimento e disseminação desse fungo, tornando-o uma ameaça crescente para a saúde pública. As mudanças climáticas têm potencial para modificação na epidemiologia dos patógenos fúngicos, incluindo Candida auris. O aumento das temperaturas globais pode favorecer a adaptação de fungos a temperaturas mais altas, próximas à do corpo humano (37°C), permitindo que se tornem mais patogênicos. Estudos sugerem que Candida auris pode ter emergido como resultado dessa adaptação térmica, com sua primeira identificação simultânea em diferentes continentes (em países como Venezuela, África do Sul e Índia) sendo associada ao aquecimento global. Além disso, eventos climáticos extremos, como inundações, secas e queimadas criam condições favoráveis ao crescimento fúngico, seja por ambientes úmidos pós-enchentes ou pela dispersão de esporos em poeira ou fuligem durante períodos secos. No contexto brasileiro, as mudanças climáticas têm impactos claros e diretos. O país enfrenta secas prolongadas no Nordeste, como as observadas nos últimos anos, e enchentes devastadoras no Sul e Sudeste, a exemplo das chuvas intensas em São Paulo e inundações no Rio Grande do Sul em 2024. Esses eventos não apenas comprometem a infraestrutura de saúde, mas também aumentam o risco de surtos por patógenos fúngicos em hospitais, especialmente em regiões com sistemas de saúde extremamente saturados. A migração populacional decorrente de desastres climáticos, como deslocamentos após inundações, pode ainda facilitar a disseminação de patógenos para áreas previamente não afetadas. Para os infectologistas no Brasil, o cenário exige ações proativas. É essencial considerar Candida auris no diagnóstico diferencial de infecções fúngicas de difícil tratamento, especialmente em pacientes internados em UTIs. É importantíssimo que existam e que se utilizem ferramentas laboratoriais adequadas para a identificação deste patógeno. Protocolos rigorosos de controle de infecção, como desinfecção de superfícies e isolamento de casos suspeitos, são fundamentais para conter surtos. Além disso, a colaboração com a vigilância epidemiológica dos estados e municípios para monitoramento da Candida auris e outros agravos no país é fundamental para mitigarmos os impactos das mudanças climáticas na saúde pública, protegendo populações vulneráveis em um futuro cada vez mais quente e imprevisível.
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Vacinação foi realizada em algumas regiões a partir da notificação de casos no Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo O Brasil reconquistou o certificado de país livre do sarampo, depois de perder por conta de surto da doença no país. Porém, a confirmação de casos de sarampo no Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo, em 2025, acendem um outro alerta para essa doença e medidas emergenciais foram tomadas para o bloqueio da doença, em especial pela vigilância e o reforço vacinal. Foram distribuídas nesse ano 400 mil unidades para ação específica de bloqueio do sarampo entre a população de 6 meses a 59 anos de idade residente nas cidades prioritárias e um monitoramento epidemiológico para evitar que surjam novos casos. “Ainda existe uma heterogeneidade de cobertura vacinal contra o sarampo e são formados bolsões onde a proteção fica abaixo de 95%, para primeira e segunda dose, o que não é recomendado e esse risco de ter casos aumenta”, diz o infectopediatra Márcio Nehab. Diante dessa iminência de mais casos no país, essas medidas se tornam indispensáveis para a saúde pública e envolvem desde escolas, trabalhadores da saúde, transportes, profissionais de turismo entre outros segmentos para uma vacinação em massa. “Importante que a vacina chegue ao indivíduo e não que a doença chegue primeiro. Temos que imunizar mesmo a população contra essa doença”, diz Nehab. Risco de outros países O risco existe, de fato, e aumenta quando há surtos em outros países vizinhos ou regiões com baixa cobertura e esse a alerta permanente é importante, pois a doença ainda não foi eliminada e em muitos países é endêmica e com óbitos, inclusive. “Precisamos manter alto índices de vacinação, sempre. É um problema com solução desde que todos se vacinem mesmo. Contudo, precisamos tomar cuidados, já que existem surtos em vários lugares, principalmente na Ásia”, diz a infectologista Nanci Silva. No último relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), por exemplo, divulgado em 24 de março de 2025, foram registrados 507 casos de sarampo nas Américas, superando o total do ano passado. Dos casos confirmados, 301 ocorreram nos Estados Unidos, com duas mortes, 173 no Canadá, 22 no México; e 11 na Argentina. Além disso, a notificação de casos suspeitos e o papel dos centros de vigilância municipais, estaduais e federais são indispensáveis para identificação da epidemiologia do sarampo. “Temos que adotar ações emergenciais de bloqueio assim que tivermos suspeitas de sarampo. É uma estratégia fundamental baseada na vacinação coletiva e, em alguns casos imunoglobulina”, completa Nehab. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/abril/ministerio-da-saude-anuncia-um-milhao-de-doses-extras-para-vacinacao-de-bloqueio-do-sarampo-no-rio-de-janeiro
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Um dos temas mais debatidos no ano de 2024 foi, sem dúvida, a vacinação em todo o Brasil. As metas vacinas ainda estão abaixo do esperado, a falta de vários imunizantes em diversos estados e a necessidade de maior incentivo expõem novamente a saúde pública perante o risco de retorno de doenças imunopreviníveis.