Atualmente, 72,5% dos óbitos por SRAG estão relacionados à influenza A superando até mesmo covid-19em 2025 Neste ano, os casos de vírus influenza A já superaram a Covid-19 e são a principal causa de óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave em idosos. Já no público infantil, também está entre as três maiores razões de mortes por complicações respiratórias. Em 2025, já foram notificados 75.257 casos de SRAG, sendo 36.622 (48,7%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 27.275 (36,2%) negativos e ao menos 6.363 (8,5%) aguardando resultado laboratorial. Sem dúvida, um quadro epidemiológico de doenças respiratórias com grande repercussão para todo o sistema de saúde, que tem um aumento muito expressivo de atendimentos nos últimos meses e que aponta para desafios significativos em quase todos os estados brasileiros. Dados atuais De acordo com o InfoGripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a prevalência entre os casos positivos nas últimas quatro semanas foi de 36,5% para influenza A; 0,9% para influenza B; 50,7% para VSR; 14,7% para rinovírus; e 2,1% para Sars-CoV-2 (Covid-19). Quanto aos óbitos, a presença destes mesmos vírus entre os casos positivos e no mesmo recorte temporal foi de 72,5% para influenza A; 1,4% para influenza B; 12,6% para VSR; 9,7% para rinovírus; e 5,9% para Sars-CoV-2. O crescimento de problemas relacionados à saúde respiratória é muito mais frequente na maior parte do Brasil, contudo nesse ano os índices superaram muito as expectativas dos especialistas e ambulatórios, emergências e demais serviços de atendimento estão com superlotação, gerando um problema sério de saúde pública. “As mudanças climáticas impactam muito o nosso sistema de saúde, especialmente com a chegada do inverno. Esse cenário é preocupante e há uma tendência de crescimento e de muitas manifestações respiratórias graves. Atualmente temos uma situação nacional diferente e que demanda muita atenção”, diz a infectologista Regina Valim. De acordo com a Fiocruz, 22 dos 27 estados brasileiros apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco, com sinal de crescimento na tendência de longo prazo: Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins e 27 capitais: Aracaju, Belo Horizonte, Boa Vista, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Joao Pessoa, Macapá, Manaus Porto Alegre, Porto Velho, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, São Paulo e Vitória. Propedêutica Conforme já citado, a influenza A tem sido o principal vírus responsável pelo aumento dos casos de SRAG entre idosos, mas incluímos também adultos e jovens a partir dos 15 anos. Há também aumento das ocorrências de SRAG nas crianças de até quatro anos também impulsionado principalmente pelo vírus sincicial respiratório (VSR), mas o rinovírus e a influenza A têm colaborado para o aumento dos casos de SRAG nessa faixa etária. “Importante destacar que isso tudo reflete no aumento expressivo de pacientes em UTIs, mais internações e consequentemente óbitos. Temos ainda dificuldade na propedêutica e circulação de diferentes vírus respiratórios. Esse conjunto de fatores associado à vacinação comprometida leva a todo esse quadro que nos desafia e muito”, diz a infectologista Mayane Fonseca. Prevenção Outro aspecto que precisa ser reforçado se refere realmente à imunização anual efetiva contra a gripe, principalmente para idosos, gestantes, crianças de 6 meses a 5 anos e pessoas com comorbidades, o que pode mudar esse cenário, pois as coberturas ainda são insatisfatórias e respondem a essa situação grave em todo o país, mesmo com a disponibilidade de vacinas. Diante disso, especialistas acompanham ainda o comportamento das cepas de influenza B e …
Atualidades
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Estudo com medicamento foi destaque no ESCMID em 2025 A gepotidacina, um novo antibiótico indicado para infecções do trato urinário, mostrou-se segura e eficaz em um ensaio clínico de fase 3 publicado no The Lancet. Os principais dados do estudo, divulgado em 2025, foram apresentados durante o ESCMID – congresso da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas – e revelaram o potencial desse antibiótico no combate à gonorreia, uma infecção sexualmente transmissível (IST) que ainda representa um expressivo problema de saúde pública. Esse novo antibiótico pode representar uma nova perspectiva para o tratamento dessa IST desde a década de 1990, período em que se apresentam níveis elevados de resistência aos tratamentos disponíveis. O estudo do Lancet incluiu 622 pacientes em seis países (Austrália, Alemanha, México, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos). Os pesquisadores compararam a gepotidacina, administrada por via oral, ao tratamento padrão atual da gonorreia não complicada, que consiste na combinação de ceftriaxona e azitromicina. Atualmente, a gepotidacina é um antibiótico da classe das triazaacenafilenas e atua inibindo a replicação do DNA bacteriano. Ela foi recentemente aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) para uso em infecções do trato urinário (ITUs) não complicadas em mulheres e meninas a partir de 12 anos. Resultados Entre os resultados do estudo, observou-se que o novo medicamento apresentou eficácia semelhante à do tratamento padrão, com vantagem adicional: atividade contra cepas da bactéria resistentes aos antibióticos usualmente empregados. Os participantes não relataram efeitos colaterais graves, e 68% do grupo que recebeu gepotidacina reportou efeitos adversos, principalmente gastrointestinais leves a moderados. O estudo comparou a administração oral da gepotidacina – duas doses de 3.000 mg, com intervalo de 10 a 12 horas – à combinação de 500 mg de ceftriaxona intramuscular com 1 g de azitromicina. O dado mais relevante foi a taxa de sucesso da resposta microbiológica no teste de cura: 92,6% no grupo da gepotidacina contra 91,2% no grupo da ceftriaxona com azitromicina. O desfecho primário de eficácia foi objetivo: a erradicação da N. gonorrhoeae, confirmada por cultura laboratorial. Patógeno prioritário O estudo foi randomizado, com alocação 1:1 para os dois tratamentos. A randomização foi estratificada por orientação sexual (homens que fazem sexo com homens, homens que fazem sexo com mulheres e mulheres) e faixa etária. Foram considerados elegíveis indivíduos com 12 anos ou mais e peso corporal acima de 45 kg. Além de representar um avanço contra cepas resistentes de Neisseria gonorrhoeae, a gepotidacina pode facilitar a adesão ao tratamento por ser administrada por via oral. “De fato representa um avanço, por se tratar de uma nova classe de antimicrobianos contra um patógeno de extrema importância epidemiológica”, destaca a infectologista Sylvia Lemos. Hinrichsen A resistência da N. gonorrhoeae continua sendo um problema grave, motivo pelo qual o patógeno figura na lista atual de prioridades da Organização Mundial da Saúde (OMS), devido à resistência às fluoroquinolonas e às cefalosporinas de terceira geração. Segundo a OMS, em 2020 houve cerca de 82,4 milhões de novos casos de gonorreia entre pessoas de 15 a 19 anos. A prevalência permanece elevada em diversos países de renda média e baixa. Dados mais recentes da Europa, de 2023, indicam também um aumento significativo: foram registrados cerca de 100 mil casos, número recorde. Entre 2014 e 2023, a taxa de notificações cresceu 321%. Os autores do estudo destacam a predominância de casos de gonorreia urogenital e a composição majoritariamente formada por homens de determinada etnia. Isso reforça a necessidade de pesquisas adicionais para avaliar a eficácia da gepotidacina em outras formas da infecção, como as retais e faríngeas, além de seu uso em mulheres, adolescentes e pessoas …
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Aumento de atividade de influenza nesse ano e necessidade de maior imunização são aspectos indispensáveis para evitar hospitalização e óbitos relacionados ao período de maior circulação de influenza no Brasil Os últimos dados do Boletim InfoGripe da Fundação Oswaldo (Fiocruz), do total de 26 estados brasileiros, metade apresentou nível de alerta ou de alto risco para o crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) nas últimas semanas. A maior parte dos estados está localizada na região Centro-Sul, estando também em alerta alguns nas regiões Norte e do Nordeste do país. Isso aponta para uma expectativa diferente dos já que podemos ter uma sazonalidade de gripe com maior intensidade em 2025. Um outro dado complementar do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) apontou que o número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada pela influenza, em 2024, aumentou 157% entre os hospitalizados pela doença e as hospitalizações em si cresceram 189%. A taxa de letalidade chegou a 21,7%, o que significa um óbito a cada cinco idosos hospitalizados. Isso mostra uma realidade, no mínimo, preocupante e a baixa vacinação é um dos fatores que expõe a população ao influenza e leva a uma série de problemas. Um panorama desafiador para a saúde coletiva. Impacto em 2025 Nesse ano, o pico epidemiológico observado nos países do hemisfério Norte, sobretudo em fevereiro, teve circulação mais relevante dos vírus Influenza A, H1N1 e B e foi um fato bem representativo do ponto de vista da saúde pública. “Tivemos elevada atividade de influenza e podemos ter impacto importante mesmo aqui no Brasil se não fizermos a imunização ampla e adequada”, diz a infectologista Nancy Bellei. Outro aspecto observado pela médica é que o influenza voltou a circular como antes da pandemia de covid-19 e, em 2024, houve uma outra onda no segundo semestre de influenza B, distinta de outros períodos, ressaltando ainda mais o papel da imunização. “A aderência à vacinação tem sido muito abaixo dos níveis recomendados. Isso é um grande problema, especialmente para idosos, gestantes e crianças, que podem ter complicações, além de pacientes com pneumopatias, cardiopatias, obesos, diabéticos ou doenças autoimunes. Todos esses grupos deveriam preferencialmente se vacinar nos locais de atendimento ambulatorial”, completa Nancy. Riscos e prevenção Tão importante quanto minimizar os sintomas respiratórios, a vacinação contra influenza traz benefícios ainda mais importantes e evita quadros graves e hospitalização, com todos os tipos de vacinas para influenza disponíveis. “Está correto priorizar grupos de pessoas com maior vulnerabilidade para doença grave e risco de morte com a vacinação, que ainda reduz, de forma significativa, a morbimortalidade causada pela doença, incluindo acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio”, diz a infectologista Rita Medeiros. O grande desafio, segundo especialistas, ainda é o incentivo à vacinação nos períodos recomendados (com a região Norte em épocas diferentes), o combate às notícias falsas e principalmente mais campanhas de conscientização. “Após a pandemia, a desinformação e uma crescente onda de propaganda antivacina contribuíram para reduzir consideravelmente a cobertura vacinal em geral e não foi diferente para a vacina antigripal. Temos que ter mais campanhas”, diz Rita. A vacinação contra a gripe já está disponível em todo o país para grupos específicos, mas a procura ainda não está como o esperado, por enquanto. Contudo, temos uma novidade: essa vacina estará no calendário durante todo o ano nos postos de vacinação, mas isso também requer algumas ressalvas. “Importante que haja entendimento do pico epidemiológico de influenza para que tenhamos os reais benefícios e que se vacinem no período apropriado. Se não fizerem no período sazonal, não ficarão protegidos. Vale destacar também que as vacinas …
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Mudanças climáticas e infecções fúngicas: foco em Candida auris no Brasil
por Júnior RosaCandida auris é um fungo emergente que tem preocupado a comunidade científica considerando a sua capacidade de causar infecções graves (especialmente em pacientes hospitalizados com comorbidades), dificuldade de tratamento e desafios em relação ao controle de infecções hospitalares. Essa levedura distingue-se por sua potencial resistência a múltiplas classes de antifúngicos e pela sua habilidade de persistir em superfícies por longos períodos, o que facilita sua disseminação em instituições de assistência a saúde. No Brasil, casos de Candida auris têm sido relatados desde 2020, com surtos em hospitais de diversos estados, como Bahia, Pernambuco e São Paulo, evidenciando a necessidade de uma vigilância estruturada e sistemática. As mudanças climáticas, uma temática cada vez mais relevante, têm relação importante com o surgimento e disseminação desse fungo, tornando-o uma ameaça crescente para a saúde pública. As mudanças climáticas têm potencial para modificação na epidemiologia dos patógenos fúngicos, incluindo Candida auris. O aumento das temperaturas globais pode favorecer a adaptação de fungos a temperaturas mais altas, próximas à do corpo humano (37°C), permitindo que se tornem mais patogênicos. Estudos sugerem que Candida auris pode ter emergido como resultado dessa adaptação térmica, com sua primeira identificação simultânea em diferentes continentes (em países como Venezuela, África do Sul e Índia) sendo associada ao aquecimento global. Além disso, eventos climáticos extremos, como inundações, secas e queimadas criam condições favoráveis ao crescimento fúngico, seja por ambientes úmidos pós-enchentes ou pela dispersão de esporos em poeira ou fuligem durante períodos secos. No contexto brasileiro, as mudanças climáticas têm impactos claros e diretos. O país enfrenta secas prolongadas no Nordeste, como as observadas nos últimos anos, e enchentes devastadoras no Sul e Sudeste, a exemplo das chuvas intensas em São Paulo e inundações no Rio Grande do Sul em 2024. Esses eventos não apenas comprometem a infraestrutura de saúde, mas também aumentam o risco de surtos por patógenos fúngicos em hospitais, especialmente em regiões com sistemas de saúde extremamente saturados. A migração populacional decorrente de desastres climáticos, como deslocamentos após inundações, pode ainda facilitar a disseminação de patógenos para áreas previamente não afetadas. Para os infectologistas no Brasil, o cenário exige ações proativas. É essencial considerar Candida auris no diagnóstico diferencial de infecções fúngicas de difícil tratamento, especialmente em pacientes internados em UTIs. É importantíssimo que existam e que se utilizem ferramentas laboratoriais adequadas para a identificação deste patógeno. Protocolos rigorosos de controle de infecção, como desinfecção de superfícies e isolamento de casos suspeitos, são fundamentais para conter surtos. Além disso, a colaboração com a vigilância epidemiológica dos estados e municípios para monitoramento da Candida auris e outros agravos no país é fundamental para mitigarmos os impactos das mudanças climáticas na saúde pública, protegendo populações vulneráveis em um futuro cada vez mais quente e imprevisível.
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Vacinação foi realizada em algumas regiões a partir da notificação de casos no Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo O Brasil reconquistou o certificado de país livre do sarampo, depois de perder por conta de surto da doença no país. Porém, a confirmação de casos de sarampo no Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo, em 2025, acendem um outro alerta para essa doença e medidas emergenciais foram tomadas para o bloqueio da doença, em especial pela vigilância e o reforço vacinal. Foram distribuídas nesse ano 400 mil unidades para ação específica de bloqueio do sarampo entre a população de 6 meses a 59 anos de idade residente nas cidades prioritárias e um monitoramento epidemiológico para evitar que surjam novos casos. “Ainda existe uma heterogeneidade de cobertura vacinal contra o sarampo e são formados bolsões onde a proteção fica abaixo de 95%, para primeira e segunda dose, o que não é recomendado e esse risco de ter casos aumenta”, diz o infectopediatra Márcio Nehab. Diante dessa iminência de mais casos no país, essas medidas se tornam indispensáveis para a saúde pública e envolvem desde escolas, trabalhadores da saúde, transportes, profissionais de turismo entre outros segmentos para uma vacinação em massa. “Importante que a vacina chegue ao indivíduo e não que a doença chegue primeiro. Temos que imunizar mesmo a população contra essa doença”, diz Nehab. Risco de outros países O risco existe, de fato, e aumenta quando há surtos em outros países vizinhos ou regiões com baixa cobertura e esse a alerta permanente é importante, pois a doença ainda não foi eliminada e em muitos países é endêmica e com óbitos, inclusive. “Precisamos manter alto índices de vacinação, sempre. É um problema com solução desde que todos se vacinem mesmo. Contudo, precisamos tomar cuidados, já que existem surtos em vários lugares, principalmente na Ásia”, diz a infectologista Nanci Silva. No último relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), por exemplo, divulgado em 24 de março de 2025, foram registrados 507 casos de sarampo nas Américas, superando o total do ano passado. Dos casos confirmados, 301 ocorreram nos Estados Unidos, com duas mortes, 173 no Canadá, 22 no México; e 11 na Argentina. Além disso, a notificação de casos suspeitos e o papel dos centros de vigilância municipais, estaduais e federais são indispensáveis para identificação da epidemiologia do sarampo. “Temos que adotar ações emergenciais de bloqueio assim que tivermos suspeitas de sarampo. É uma estratégia fundamental baseada na vacinação coletiva e, em alguns casos imunoglobulina”, completa Nehab. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/abril/ministerio-da-saude-anuncia-um-milhao-de-doses-extras-para-vacinacao-de-bloqueio-do-sarampo-no-rio-de-janeiro
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Um dos temas mais debatidos no ano de 2024 foi, sem dúvida, a vacinação em todo o Brasil. As metas vacinas ainda estão abaixo do esperado, a falta de vários imunizantes em diversos estados e a necessidade de maior incentivo expõem novamente a saúde pública perante o risco de retorno de doenças imunopreviníveis.