O Ministério da Saúde emitiu um alerta no início de fevereiro a respeito do aumento da transmissão da febre amarela nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Roraima e Tocantins. Até o momento foram identificados 12 casos e 8 óbitos, todos no estado de São Paulo. Para analisar a situação da febre amarela, o SBI News entrevistou a infectologista Tânia Chaves, coordenadora do Comitê de Medicina de Viagem da Sociedade Brasileira de Infectologia, que falou sobre vários aspectos do retorno da febre amarela nesse ano.
Por que estamos tendo o retorno da febre amarela em 2025, sendo que estava controlada há anos?
A febre amarela no Brasil tem demonstrado maior frequência de ocorrência de casos humanos nos meses de dezembro e maio, como um padrão sazonal, em geral ocorre em geral a cada sete a 8 anos, desta forma a febre amarela ocorre de forma cíclica. Deve-se destacar que a morte de primatas não humanos é que alerta as autoridades de saúde pública sobre a evolução de surtos.
O comprometimento da vacinação contra a febre amarela pode ser um fator para esse retorno nesse ano? A série histórica de 2009 a 2023 referente à cobertura vacinal da febre amarela foi superior a 10% a partir do ano de 2018. A vacina da febre amarela está entre as 13 das 16 principais vacinas de rotina do calendário da febre amarela que teve aumento na cobertura vacinal em 2023 (70%), se comparado com os dados de 2022 (60,7%). A vacina é realizada no calendário de rotina de todas as faixas etárias no Brasil. É necessário intensificar a comunicação do risco da doença e a importância para a população brasileira, especialmente em ambientes de maior circulação de pessoas e viajantes, como rodoviárias, aeroportos, parques, além das áreas com risco de transmissão.
A ida a locais de mata, ambientes rurais ou afins representa um problema para a febre amarela?
O que garante a redução de risco de se adquirir febre amarela em locais de mata virgem é estar com a vacina atualizada para esta temível e mortal doença. A vacina da febre amarela está disponível em todos os postos de vacinação do Brasil de forma gratuita pelo Serviço Único de Saúde (SUS). A vacina é a principal ferramenta de prevenção e controle da febre amarela, segura e eficaz para evitar casos graves e mortes pela doença. O esquema vacinal para adulto é composto de uma única dose que protege o indivíduo para toda vida. Já para crianças o esquema é de uma dose aos 9 meses de vida, e uma dose de reforço entre 4 a 6 anos. A vacina é a principal ferramenta de prevenção e controle da febre amarela, segura e eficaz para evitar casos graves e mortes pela doença.
Viajar para locais específicos como em rios, florestas, trilhas, os riscos são maiores ainda?
Só existirá risco de aquisição de febre amarela nesses ambientes quando haja circulação do vírus amarílico e quando o indivíduo adentra a estes espaços não vacinado. Por isso, é fundamental a informação clara e objetiva à população sobre a ocorrência da doença, os sintomas e que existe uma vacina eficaz.
Quais os principais desafios que ainda temos em relação a febre amarela atualmente?
É a conscientização das pessoas sobre a importância da vacinação da febre amarela. Todos os casos observados são em viajantes internos que nunca foram vacinados. Outro aspecto desafiador é a comunicação de risco sobre a doença para a população. É a única vacina obrigatória segundo o Regulamento Sanitário Internacional para viajantes com destino à África e América do Sul. Desde abril de 2017, o Brasil adota o esquema vacinal de apenas uma dose durante toda a vida, medida que está de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Quem deve se vacinar?
Crianças, ao completarem 9 meses de vida, devem receber 1 (uma) dose; Crianças, ao completarem 4 anos de idade, devem receber 1 (uma) dose de reforço; Pessoas de 5 a 59 anos de idade, não vacinadas ou sem comprovante de vacinação, devem receber 1 (uma) dose; Pessoas que receberam apenas 1 (uma) dose da vacina antes de completarem 5 anos de idade devem receber 1 (uma) dose de reforço.
Pessoas com 60 anos e mais, o serviço de saúde deverá avaliar a indicação da vacinação. Caso o idoso esteja em área de surto da doença ou com circulação do vírus, o mesmo deve ser vacinado. Neste caso, o risco de contrair e morrer de febre amarela é maior que o efeito colateral da vacina.
Viajantes internacionais e viajantes não vacinados que se deslocarão para áreas com evidência de circulação do vírus febre amarela (em humanos ou algumas espécies de primatas não humanos, como o macaco prego, bugio, macaco aranha e calitrix). A recomendação é que seja administrada 1 (uma) dose da vacina com pelo menos com 10 dias antes da viagem.
Quem não deve tomar a vacina contra febre amarela?
Crianças menores de 6 (seis) meses de idade. Pacientes em tratamento com imunobiológicos (Infliximabe, Etarnecepte, Golimumabe, Certolizumabe, Abatacept, Belimumabe, Ustequinumabe, Canaquinumabe, Tocilizumabe, Rituximabe, inibidores de CCR5 como Maraviroc), em pacientes que interromperam o uso dessa medicação é necessária avaliação médica para se definir o intervalo para vacinação, conforme manual dos CRIE.
Pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos, imunodeficiências primárias graves, com história pregressa de doenças do timo (miastenia gravis, timoma, casos de ausência de timo ou remoção cirúrgica), portadores de anemia falciforme em uso de hidroxiureia e contagem de neutrófilos menor de 1500 cels/mm³, pacientes recebendo corticosteroides em doses imunossupressoras (prednisona 2mg/kg por dia nas crianças até 10 kg por mais de 14 dias ou 20 mg por dia por mais de 14 dias em adultos) e ´pessoas com alergia grave ao ovo.
Qual a recomendação de vacina da febre amarela para quem vai viajar?
A vacina contra Febre Amarela está indicada para prevenir a doença em residentes ou viajantes que se deslocam para as áreas com risco para a doença ou que exijam o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia – CIVP, a partir dos 9 meses de idade, conforme Calendário Nacional de Vacinação. Para os viajantes com deslocamento para as ACRV, vacinar de acordo com as normas do Programa Nacional de Imunizações – PNI, pelo menos 10 dias antes da viagem. Outra informação importante: após 28 dias da vacina, as doações de sangue podem ser realizadas. Sugere-se que antes de tomar a vacina as pessoas procurem um hemocentro ou serviço de coleta para doação, evitando que haja desabastecimento dos estoques de bolsas de sangue.
Nota técnica do Ministério da Saúde: