No início representados pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, os infectologistas deram o pontapé inicial em sua sociedade científica nos anos 1980
Por Roberto Focaccia
Cofundador da SBI e presidente fundador da Sociedade Paulista de Infectologia
Nos anos 1970, as doenças infecciosas e parasitárias eram representadas nacionalmente pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) agrupando profissionais de várias áreas correlatas e pesquisadores remanescentes da antiga denominada Medicina Tropical. Este termo tinha sido cooptado em referência aos notáveis institutos europeus que estudavam as doenças que ocorriam em suas colônias na África e preparavam profissionais para fazer frente às doenças ditas tropicais. Esta denominação ainda persiste teimosamente em muitos Institutos do Brasil, apesar do reduzido número de doenças verdadeiramente localizadas somente nas regiões quentes tropicais.
A SBMT evoluiu suas atenções para as grandes endemias brasileiras como esquistossomose, Doença de Chagas, Leishmanioses, Hanseníases, acidentes ofídicos, Micose Profundas entre outras. Grandes pesquisadores surgiram nessa época congregados nessa Sociedade. Entretanto, as doenças infecciosas e parasitárias (DIP) ou Moléstias Infecciosas (MI) com alto enfoque clínico aumentavam de interesse com o surgimento de enfermarias específicas e a necessidade das interconsultas com especialidades que tangenciavam as DIP ou MI. Esse número crescente de profissionais não encontrava na SBMT espaço adequado para discussão de problemas clínicos de infectologia, antibióticos, vacinas, a infectologia pediátrica, a bacteriologia e virologia clínica, as comissões de Infecção hospitalar, entre outras atividades pertinentes. Daí começou a surgir a necessidade de uma sociedade voltada para a clínica.
Em 1980, durante o Congresso Brasileiro de Medicina Tropical em Natal, sob a liderança do prof. Ricardo Veronesi reuniram-se no salão superior do antigo Hotel Ducal (já inexistente) vários notáveis professores como Giselda Trigueiros (Natal), Miroslau Baranski (PR), Rodolfo Teixeira (BA), Walter Tavares (RJ), Paulo Augusto Ayrosa Galvão (SP), Arari da Cruz Tiriba (SP), Hélvio Auto (AL), Egomar Edelweiss (RGS), Willian Barbosa (GO), Jayme Neves (MG) entre outros acompanhados por uma plêiade de jovens promissores médicos, que iniciam suas carreiras no ambiente hospitala, e resolveu-se criar a SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA.
Por proposta do prof. Ricardo Veronesi foram unificados os termos Medicina Tropical, Patologia Tropical, Doenças Infecciosas e Parasitárias, Moléstias Infecciosas e Parasitárias, Moléstias Infecciosas, em INFECTOLOGIA copiando a crescente especialidade de Infectious Diseases utilizada nos Estados Unidos.
Constituída uma Diretoria Provisória logo em 1981 ocorreu seu primeiro Congresso Nacional em Camboriú, Santa Catarina, com grande sucesso e a partir de então os congressos bianuais. A Diretoria Provisória foi efetivada. As Sociedades Estaduais foram se constituindo rapidamente.
A primeira grande vitória da SBI foi o reconhecimento pela Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina como a única Sociedade da Especialidade, visto que a SBMT e outras menores eram leigas, sendo-lhe outorgado a autorização da realização de Exames da Especialidade para concessão do Título de Especialista, validados pelos órgãos maiores.
O crescimento e a importância da SBI foram sendo construída pelo esforço dos vários presidentes que se sucederam, atingindo um alto alcance internacional e de representatividade junto aos órgãos de gestão oficial.