Dados epidemiológicos da tuberculose afastam o Brasil de metas a serem alcançadas nos próximos cinco anos. Números ainda são elevados mesmo com ações por parte da iniciativa pública.
De acordo com o Boletim Epidemiológico (2025) de tuberculose, o cenário para a doença é desafiador para a atual realidade a saúde pública brasileira. Depois da redução na detecção de pessoas com tuberculose em 2020, o Brasil teve aumento da detecção de pessoas com a doença. Em 2021, o coeficiente de incidência de tuberculose foi de 34,8 casos por 100 mil habitantes; em 2022, registraram-se 38,6 casos por 100 mil/hab., um incremento de 10,9% em comparação a 2021. Passando para 2024 (dados ainda preliminares) se contabilizam 84.308 casos novos e um coeficiente de incidência de 39,7 casos por 100 mil/hab., ou seja, dados ainda preocupantes para o devido controle da tuberculose.
Esses dados contrastam com as metas da Organização Mundial de Saúde (OMS) que é ter, no máximo, até 2030, 6,7 casos por 100 mil pessoas/ano, com mortalidade da tuberculose reduzida a 90%. A tarefa é, no mínimo, ambiciosa, já que muitas variáveis se relacionam a uma realidade que se distancia dessas metas. “São muitas variáveis envolvidas e vão desde ações em todos os âmbitos governamentais até a implementação dos objetivos de desenvolvimento sustentável, que vão desde a erradicação da pobreza, passando pelas mudanças climáticas e diversos outros fatores a serem abordados e que interferem diretamente no controle efetivo da tuberculose. Para atingirmos as metas da OMS temos um longo e desafiador percurso e uma dificuldade de mudar esse cenário epidemiológico, infelizmente”, diz o infectologista Júlio Croda.
Hoje, a OMS estima que temos, mundialmente, 10,8 milhões de pessoas adoeceram por tuberculose e 1,25 milhão morreram devido à doença, ou seja, é uma questão de saúde global. Porém, na América Latina, apenas o Brasil e o Peru constam nas listas de países de alta carga da OMS e apenas o Brasil na lista de tuberculose e tuberculose e HIV.
Atualmente, fatores como imunossupressão, desnutrição e doenças crônicas, além de fatores contextuais, como as desigualdades sociais e econômicas, influenciam diretamente a distribuição e o controle da doença, o que leva ainda a milhares de casos e óbitos. “A tuberculose ainda é uma questão muito séria de saúde e temos que ser cada vez mais eficazes no diagnóstico precoce, no acompanhamento dos pacientes e oferecer o tratamento adequado. Para pacientes com HIV, populações privadas de liberdade, de rua, indígenas, por exemplo, a atenção deve ser redobrada diante da tuberculose”, diz o infectologista Júlio Croda.
Junto de tudo isso, ações como treinamentos de equipes multiprofissionais, incremento de mais diagnósticos e com melhor sensibilidade, qualificação da rede de assistência para a garantia da realização dos fluxos laboratoriais e o aprimoramento da vigilância laboratorial são pontos que podem ser analisados a fim da melhoria desse cenário da tuberculose no Brasil e, dessa forma, atingir objetivos factíveis.