Para a infectologista Raquel Stucchi, consultora da SBI, controle da pandemia depende de muitos fatores, incluindo áreas prioritárias e regiões com maior número de pessoas com comorbidades
O Brasil atravessa seu momento mais crítico em relação à pandemia da Covid-19. O número de novos casos não para de crescer e o sistema de saúde está à beira do colapso em diversos estados do País. No meio de mais esse capítulo dessa emergência sanitária, a vacinação para a Covid-19, única forma até agora para, de fato, iniciarmos uma retomada concreta, continua incerta.
Para a infectologista Raquel Stucchi, consultora da SBI, são muitos os passos que ainda precisam ser concretizados pelo Ministério da Saúde para que o Programa Nacional de Vacinação atinja seus objetivos neste caso.
“Estamos sem vacinas. Esse é o primeiro ponto importantíssimo. A quantidade que nós temos para as pessoas que precisam ser vacinadas é muito pequena”, explica.
Além disso, um outro ponto que vem chamando a atenção dos infectologistas também diz respeito a formação dos grupos prioritários. Segundo ela, as prioridades são definidas levando-se em consideração os grandes riscos de exposição à Covid e a necessidade de força de trabalho, motivo pelo qual os profissionais de saúde estão na prioridade máxima do programa de vacinação.
Em seguida, entram os idosos que são o maior grupo de risco para mortalidade em relação ao coronavírus. “Na priorização colocada pelo Ministério da Saúde, entretanto, caberia ao Governo Federal já definir uma ordem de priorização dos profissionais que devem receber a vacina, assim como uma ordem em relação às comorbidades”, lembra. “Não basta listar as 60 comorbidades. É preciso que o Ministério da Saúde defina claramente dentro desse grupo quais são os subgrupos mais prioritários. E não deixar essa tarefa para cada município”, completa.
A falta de coesão nacional em relação ao Programa de Vacinação para a Covid-19 é uma das questões levantadas pelos especialistas em relação ao sucesso futuro para o controle da doença no País.
Raquel explica ainda que a demora em vacinar a população pode comprometer o controle da doença no País, inclusive por conta das novas variantes que estão surgindo porque poderão apresentar diferenças na eficácia das vacinas que atualmente estão disponíveis no Brasil. “Estamos realmente fazendo um apelo para o Ministério da Saúde para que seja efetivada a compra de mais imunizantes para garantir uma vacinação mais acelerada no País. Embora não seja ideal, vejo que uma outra forma de se resolver isso, seria que os gestores estaduais e municipais fiquem responsáveis e tenham maior capacidade de planejamento e ação para que possam adquirir os imunizantes para vacinar a população.”
Segundo a infectologista, falta ao Ministério da Saúde uma distribuição correta dos imunizantes para garantir o controle da pandemia no Brasil. “Uma coisa é vacinar de forma equitativa a população para uma vacinação em massa do PNI para as doenças já existentes. Outra é controlar a pandemia em que deveria ser levado em conta os estados, por exemplo, onde a doença está sendo mais grave, e estes deveriam ser privilegiados. E depois, o ideal é fazer uma distribuição conforme a proporção de pessoas em grupos prioritários e não considerar apenas a população em números absolutos.”