Crescimento explosivo dessa doença expõe uma realidade de difícil controle e com a necessidade de medidas para a situação não se agravar mais
Durante a reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) de 2025, do Ministério da Saúde, decidiu se que a esporotricose humana vai passar a fazer parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória e deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Isso ainda deve ser publicado no Diário Oficial da União e, portanto, nosso objetivo é para abordar com mais ênfase a realidade atual da transmissão zoonótica dessa doença, assim como a implementação de políticas e promoção de dados mais robustos e consistentes em âmbito nacional. Esse fato visa contribuir para termos um retrato mais fiel de uma doença e que está expandindo-se de forma preocupante.
Conforme o Ministério da Saúde propõe, as ações consistem em elaboração de ficha de notificação e investigação no Sinan para apoiar os estados, elaboração de protocolo de vigilância das micoses com fluxo da esporotricose humana detalhado, qualificações sobre o assunto para os profissionais de assistência à saúde e de vigilância, organização da rede diagnóstica laboratorial, além de planejamento estratégico na disponibilização de medicamentos antifúngicos para tratamento da esporotricose considerando um provável aumento de demanda perante a sensibilidade da vigilância. “Os dados são bem elevados e temos muita subnotificação. As notícias ainda não são animadoras quanto ao seu controle, pois dependemos de medidas muito difíceis de serem adotadas. A esporotricose já ultrapassou fronteiras e está presente em países que fazem fronteira com o Brasil”, diz o infectologista Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia Clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Novo cenário
A partir da notificação compulsória, um cenário mais atualizado da esporotricose deve estar mais próximo da realidade nos próximos anos, já que todos os estados vão documentar e possibilitará, inclusive, ter ações mais efetivas diante da doença. “Com essa obrigatoriedade, podemos ter um retrato da situação epidemiológica no Brasil e seu impacto para a saúde pública. Observamos uma proliferação alta e uma verdadeira reação em cadeia dessa doença”, diz o infectologista Felipe Prohaska.
De acordo com os especialistas, é um problema muito amplo e que pode ser minimizado com castração de gatos e cremação de cadáveres de animais falecidos pela doença. Outra importante medida que poderia auxiliar no controle da expansão do agravo seria a redução populacional dos felinos, tarefa difícil de ser realizada. No Brasil, convivem três populações de gatos: os tutorados, os de rua errantes e gatos ferais, nas matas e periferias das cidades.
A esporotricose de transmissão felina é causada principalmente por Sporothrix brasiliensis, uma variante de S. schenckii, que hoje ocasiona uma epizoonose, acometendo milhares de humanos e felinos, além de centenas de cães. “A doença encontra-se em expansão e de forma muito rápida. Não temos vacinas e o controle é extremamente desafiador. A transmissão ocorre usualmente por arranhaduras, mordeduras, pus e exsudatos de secreções de lesões de gatos doentes, além de gotículas, respiratórias, expelidas durante episódios de tosse ou espirros. Sporothrix brasiliensis pode sobreviver em superfícies inanimadas, por até 21 dias, sendo capaz de ser transmitido por fômites inanimados como piercings, procedimento de tatuagem, superfície de móveis de clinicas veterinárias, mal higienizadas etc. Portanto, todo o cuidado é pouco diante dessa doença”, diz Telles.
Outro aspecto apontado pelos infectologistas é a necessidade iniciar tratamento precoce, baseado em dados clínicos e epidemiológicos, sem esperar pela comprovação microbiológica do diagnóstico. “Embora a cultura seja o padrão ouro do diagnóstico da esporotricose, nem sempre ela é obtida. Outros exames, como histopatológico e micológico direto, tem baixa sensibilidade em humanos imunocompetentes”. O início do tratamento empírico precoce é recomendado pelo Ministério da Saúde, evitando-se assim o aumento da morbidade da doença e reduzindo-se a duração do tratamento com antifúngicos sistêmicos. “Devemos iniciar o tratamento diante da suspeita clínica e epidemiológica de casos micro biologicamente provados e realizar o acompanhamento clínico frequente”, reitera Telles.
Um dos grandes objetivos apontados pelos médicos é que essa notificação compulsória mude esse panorama sério e emergente da esporotricose humana e, além da epidemiologia, outras ações possam ser colocar em prática e que haja um alerta nacional diante da doença. “´É um agravo de saúde pública emergente, um surto atual e todas as esferas (municipal, estadual e municipal) precisariam estar envolvidas para combater a esporotricose”, finaliza Prohaska.
Fonte: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/janeiro/esporotricose-humana-passa-a-ser-de-notificacao-compulsoria