Notícias falsas, maior conhecimento dos pais em relação à importância dessa vacina e necessidade de outras estratégias de imunização são fatores que contribuem para a baixa adesão
Desde 2023, a vacina para a dengue, oferecida em duas doses, é uma realidade no Brasil para adolescentes, de 10 a 14 anos, que são o público prioritário para esta vacina que é distribuída pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Em situações específicas, quando a vacina está próxima do vencimento, por exemplo, a idade pode ser ampliada. Contudo, nesses dois anos com a vacina no PNI, a imunização contra a dengue enfrenta grandes desafios no Brasil, com uma baixa adesão, sobretudo na segunda.
O problema não se reduz a essa vacina, claro, mas diante do número de casos e óbitos por dengue, a vacina é bem importante e recomendada, principalmente para evitar quadros graves nesse público adolescente, que é bem impactado, inclusive com internações. “A baixa adesão da vacinação se deve provavelmente à baixa percepção dos pais em relação à gravidade da dengue nos seus filhos nessa faixa etária”, diz a infectologista Raquel Stucchi, membro do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Entretanto, essa questão da vacinação contra a dengue é bem ampla e multifatorial e se relaciona também ao negacionismo científico e leva a uma procura menor de pessoas a tomarem essa vacina e ficam mais expostas e menos protegidas. “A hesitação vacinal cresceu muito desde a pandemia de covid-19 e, desde então, sob interferências políticas e com alto prejuízo a toda população. Temos que intensificar a divulgação de segurança, benefícios da vacina assim como a disponibilidade”, diz Andyane Tetila, diretora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Estratégias
Outro ponto destacado pelas especialistas é a importância da mudança de estratégia, incluindo o fornecimento da vacina em horários diferenciados nos postos de vacinação, aplicação em outros locais a fim de facilitar a adesão. Mesmo com uma quantidade restrita de vacinas, a procura é pequena, o que preocupa os médicos. “Temos que trabalhar fortemente com a conscientização, oferecer orientações, esclarecer as pessoas e assim tentar minimizar o impacto dessa doença”, diz Andyane. Além disso, vale esclarecer que a vacinação é limitada porque não tem doses suficientes para toda a população, mas quem se imuniza tem a devida prevenção contra a dengue. “A proteção ainda é individual pois temos um público limitado que tomou. Para uma proteção coletiva, temos que ter uma cobertura vacinal acima de 90% e com pessoas de outras faixas etárias também, o que ainda não é a nossa realidade, infelizmente”, diz Raquel.
A vacinação contra a dengue confronta com o número de casos e óbitos de 2024, e até mesmo de 2025, que já tem dados epidemiológicos significativos e com grande impacto para a saúde pública em todo o território nacional. O enfrentamento não se restringe à vacinação, mas se alia a outras medidas indispensáveis para eliminar o vetor, em âmbito coletivo, o que pode mudar esse cenário alarmante dessa arbovirose.